Sarah Kalley (1825-1907)

Biografia

Sarah Poulton Kalley (1825-1907)

Sarah Pouton Kalley

 


Sarah Kalley, a inglesa congregacional (1825-1907): uma voz talentosa[1]

Por Rute Salviano Almeida[2]

Figura 1 – Sarah Poulton Kalley. Fonte: Acervo da Associação Basileia.

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Figura 1

A Sra. Kalley não foi somente uma excelente esposa: foi também a companheira inteligente e consagrada, o braço direito do seu marido, em tudo o que este empreendeu, daí por diante, em seu mister de pastor e evangelista. Ela foi bem o “complemento” do seu esposo. Possuidora de uma sólida instrução e de um talento invulgar, auxiliava o seu marido em tudo, absolutamente em tudo – até no preparo dos seus sermões, quando o Dr. Kalley se achava impossibilitado de estudá-los, por estar adoentado ou por ter de ocupar-se com trabalhos de maior relevância. Ela compôs quase todos os hinos dos “Psalmos e Hymnos”, porquanto, dos 182 hinos, assinados pelo Dr. Kalley, apenas 13 foram realmente compostos por ele; controlava o trabalho dos colportores; fazia os “esboços” dos sermões que os presbíteros ou diáconos tinham de pronunciar, na ausência do Dr. Kalley etc.

João Gomes da Rocha[3]

Sarah Kalley foi muito mais que esposa de pastor. Além de auxiliar o dr. Robert Kalley, teve seu próprio ministério:

A mulher do pastor tem uma responsabilidade imediata à do próprio pastor, porque, no meio dos enfados domésticos, tem ela de exercer vivo interesse no labor dele – confortando-o, quando perturbado e desgostoso; alentando-o, quando desanimado pelas quedas e faltas daqueles de quem ele esperava resultados melhores; e caminhando com ele, com toda a alma e todo o coração à Fonte, donde se tira a sabedoria e o vigor para todos os deveres.[4]

Sarah: infância e educação

Sarah Poulton Wilson nasceu em Nottingham, na Inglaterra, em 25 de maio de 1825. Era filha de William Wilson (1801-1866) e Sarah Poulton Morley (1802-1825). Com apenas quatro dias de nascida, a menina ficou órfã de mãe e passou a infância entre a casa de campo do pai, em Trumpton, e a casa dos avós maternos, na cidade de Londres. Tanto seus familiares maternos quanto paternos eram puritanos e pertenciam à Igreja Congregacional.

Desde sua infância mostrava um entusiasmo genuíno pela vida: transbordava de vitalidade e de um vívido humor. Mesmo quando mais velha, esta característica permaneceria inalterada. Ela manteve seu prazer juvenil pela vida e, mesmo idosa, ainda atraía jovens para perto de si. Era muito inteligente, e como pertencia a uma família rica, fora muito bem educada, falando fluentemente tanto francês quanto alemão, tendo viajado extensivamente por todo o continente europeu. Seus dons artísticos eram muitos: música, poesia, pintura – era talentosa em tudo isso. Algumas de suas aquarelas ainda existem e demonstram amplamente sua habilidade como artista. Seus talentos em música e poesia seriam de grande utilidade nos anos seguintes.[5]

Sarah recebeu a típica educação burguesa da época, que excluía do mercado de trabalho a mulher e lhe destinava apenas o espaço privado do lar. Porém, por pertencer a uma classe social abastada, foi educada em casa com os melhores professores de Londres. Aos 10 anos de idade, ingressou num internato próximo à cidade de Fairfield, onde morava sua avó paterna. Lá, a menina estudou por seis anos e se destacou como excelente aluna.

Os internatos da época eram muito rigorosos e seguiam a linha religiosa dos tutores. Nas escolas não-conformistas a ética puritana era aplicada com seus conceitos bíblicos e com a utilização de ditados que provocassem nos alunos a assimilação dos bons hábitos.[6]

Uma das características mais marcantes de Sarah era a profunda espiritualidade. Desde o início de sua vida, dedicou-se ao serviço cristão; para ela, o viver era Cristo. Um amigo declarou que, quanto mais ela crescia com as experiências da vida, mais “a santidade brilhava em seu rosto”.[7]

Como tivesse facilidade para lecionar, seu pai, que era superintendente da Escola Dominical de Albany Road, entregou-lhe uma classe de rapazes. Além das aulas bíblicas, Sarah formou um curso noturno de conhecimentos gerais para os jovens que trabalhavam durante o dia. Dentre eles, destacou-se William Deatron Pitt, o primeiro a vir para o Brasil ajudar o casal Kalley e que, posteriormente, se tornou ministro presbiteriano. A influência de Sarah foi duradoura, e muitos daqueles rapazes tornaram-se cristãos comprometidos e trabalhadores.

Na casa de seu pai, missionários eram recebidos constantemente. A jovem gostava de ouvir suas histórias e organizou uma classe de costuras para moças que aprendiam sobre os campos missionários e confeccionavam roupas para enviar a eles.

Seu irmão Cecil Wilson foi, em fins de 1851, enviado ao Egito para se recuperar de uma tuberculose. Recebendo notícias desanimadoras dele, Sarah foi com seu pai e seu irmão Henry encontrá-lo em Beirute. De lá, viajaram até a Síria para se consultarem com o dr. Robert Reid Kalley, que o examinou. Como a doença estava muito avançada, o rapaz faleceu logo depois.

Dr. Kalley retornou para a Inglaterra no mesmo navio que os Wilsons, e durante a viagem, ele e Sarah estavam frequentemente na companhia um do outro, conversando. Sua amizade cresceu e logo se tornou amor, e em dezembro de 1852 casaram-se na Igreja Congregacional de Albany Rody, em Torquay.[8]

Sarah: casamento e chegada ao Brasil

Robert Kalley, que perdera a esposa Margareth, apaixonou-se pela jovem Sarah e ficou impressionado com seu interesse e entusiasmo pela obra missionária. Ela, por sua vez, ficou encantada com seu modo de orar e expor as Escrituras. Eles se casaram em 14 de dezembro de 1852.

Kalley, que fora missionário na Ilha da Madeira, passou a maior parte de 1853 e 1854 em companhia de madeirenses nos Estados Unidos. Eles conversavam sobre a carência espiritual do povo brasileiro. Compadecido, o casal missionário decidiou iniciar voluntariamente um trabalho missionário no país.

Chegaram ao Rio de Janeiro em 10 de maio de 1855 e, após algum tempo em hotéis e não conseguindo casa na cidade, alugaram uma residência em Petrópolis, a qual chamaram de Gernheim (“lar muito amado”).

Figura 2 – Sarah Kalley no detalhe de sua pintura Gernheim (“Lar muito amado”). Fonte: Edição Histórica da Revista Vida Cristã: 150 anos do congregacionalismo brasileiro. Vida Cristã. Ano 51. Nº 208, 3º trimestre de 2005 (capa).

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Figura 2

Sarah Kalley: a educadora

Em Petrópolis, Sarah ministrou a primeira aula bíblica a cinco crianças de uma família inglesa, contando a história do profeta Jonas: “Foi no domingo, 19 de agosto de 1855, que a Sra. Kalley inaugurou a Escola Dominical, para instrução bíblica de crianças”.[9]

Alguns domingos depois, o dr. Kalley dirigiu uma classe de homens de cor, com os quais conversava a respeito das Escrituras. Em maio do ano seguinte, tiveram início as aulas em português.

A facilidade de Sarah para línguas permitiu que a Escola Dominical atingisse pessoas de diversas nacionalidades, com ministrações, cânticos e estudos bíblicos em inglês, alemão e português. Segue-se um depoimento de uma de suas primeiras alunas, Christina Faulhaber, em 1917:

Quando eu tinha a idade de 7 anos, em 1856 ou mesmo começo de 1857, frequentava a “Classe Bíblica” do Dr. Robert Reid Kalley em Petrópolis, em sua chácara, à rua Joinville, hoje Ypiranga. Reuniam-se ali, das 2 ou 3 às 4 horas da tarde, aos domingos, para o estudo da Bíblia, sentados em volta de uma mesa grande, na sala de jantar, cerca de 30 a 40 alemães, meninos e meninas, em sua maioria, cada um trazendo seu Novo Testamento. Quem levasse decorados três versículos, recebia um cartãozinho com um texto bíblico: quem conseguisse adquirir 10 cartõezinhos, recebia um cartão maior, e quem conseguisse 3 maiores recebia um livro. Em todas as ocasiões, cantavam-se hinos. À saída, encontrávamos os que vinham para o estudo bíblico em português – esses eram em menor número… Após o estudo em português, reunia-se a classe inglesa. Por diversas vezes, fizemos pic-nic na chácara do Dr. R. R. Kalley.[10]

Este depoimento revela a didática de Sarah Kalley, com o uso de recursos motivacionais, como a distribuição de prêmios e a promoção de encontros festivos, e sua preocupação com a memorização de versículos bíblicos. O bom resultado de suas aulas motivou Sarah a ensinar as crianças não apenas aos domingos, mas também durante a semana, de noite. Em carta de 1876, Sarah relatou sobre uma ex-aluna:

De vez em quando, aparece aqui uma senhora alemã, cercada de um bando de bonitos filhinhos, dizendo-me que há anos pertencia à minha “classe” e que guarda ainda, na memória, alguma coisa do que aprendeu e que continua a estimar os livros que recebeu como prêmios, etc. Que pena que tão pouco fruto venha de toda a sementeira! Mas o nosso Deus sabe onde essa semente está, e toda semente que for verdadeiramente dele é incorruptível e há de aparecer… ([11])

Era constante a preocupação do casal Kalley em abrir escolas primárias junto às igrejas, mas só foi possível fazê-lo após dezessete anos de sua chegada ao Brasil. Em 1871, Sarah escreveu à sua tia Lydia Morley sobre a negativa do governo ao pedido de licença para abertura de escola primária:

Nós, já há vários anos, estamos ansiosos por abrir uma “escola diária” em benefício das crianças da Igreja Evangélica Fluminense, mas não pudemos encontrar professores habilitados; e, agora estamos em maiores dificuldades, porque tememos que as autoridades contrariem o nosso propósito como acaba de acontecer com os presbiterianos.

Esperamos, todavia, que a influência dos filhos dos crentes, obrigados a frequentar as escolas existentes, produza bons frutos. Ouvimos falar de casos em que as nossas crianças não se ajoelham, quando a “Hóstia” é levada em procissão, pelas ruas; etc… E os pais proibem que ensinem a seus filhos as doutrinas do romanismo.(grifos do autor)[12]

Finalmente, em 30 de maio de 1872, foi fundada pela Igreja Evangélica Fluminense a Escola Evangélica Fluminense de Instrução Primária, mais conhecida por Escola Diária. O professor era José Vieira de Andrade, homem de relativa cultura, que ocupou cargos de responsabilidade na igreja.[13]

O casal Kalley se preocupava não somente com a instrução espiritual do povo brasileiro, mas também com sua educação. Ao final de seu ministério no Brasil, quando ambos se encontravam cansados do trabalho, Sarah abriu uma classe noturna de Geografia e História, no meio das quais oferecia noções de outras matérias relacionadas. Ela declarou que “não era o que eu preferia fazer, mas a necessidade nos obriga a fazer qualquer coisa, para saciar a sede de instrução da nossa sociedade”.[14]

A intelectualidade do casal Kalley despertou a atenção até mesmo do imperador, que gostava de conversar com o missionário sobre suas viagens ao exterior. Foi com esse objetivo que o monarca o procurou em 28 de fevereiro de 1860, conforme Sarah relatou em correspondência ao pai.

Carta de Sarah Poulton Kalley narrando uma visita do Imperador

(…) na terça-feira, dia 28, e antes das 8 da manhã (passei boa parte da noite acordada por causa de Roberto, para cuidar dele), eu estava me arrumando, ajeitando meu cabelo, quando escuto um homem correndo e dizendo: “Como?” Era alguém avisando que Dom Pedro II queria falar com Roberto, “Impossível”, eu respondi. “Ele não vai mandar um mensageiro desses”. Nesta altura Marianne voltou para dizer que o Imperador estava subindo a ruazinha que leva à nossa casa! Eu lhe disse que ela mandasse Jacinto às pressas para dizer que Roberto estava muito doente, de cama, e que, não fosse isso, iria atendê-lo prontamente. Continuei a me arrumar, mas fiquei tão nervosa! Dois minutos depois alguém vem correndo – é Marianne gritando, – “Sra., por favor. O Imperador está aqui – ele está na varanda.” “Vai você para lá agora mesmo – ele entende inglês – e explique tudo”, eu disse a ela. Corri para me vestir e me aprontar, e em dois ou três minutos Marianne voltou, escancarando a porta do quarto. Escutei os passos de um homem, entrando em casa. Mais três minutos, e lá estou eu, na sala, não muito bem arrumada, devo dizer, mas perfeitamente calma – aparentemente! Nós duas fizemos uma reverência profunda. (…) O Imperador fez um levíssimo gesto, como se estivesse me oferecendo sua mão para eu beijá-la. Mas eu sei que as inglesas não fazem isso, e eu também não o fiz. Então eu lhe disse mais ou menos assim: “Meu esposo está muito doente, acamado mesmo, e é impossível que ele tenha a honra de receber…” E me veio aquela dúvida… “O que é que eu digo agora? “Vossa Majestade” ou “Vossa Alteza Imperial”? Na dúvida eu disse somente “o senhor”, e nada mais. Temo que tenha sido muito mal-educada! Mas eu não tinha como fazer. Se eu pudesse ter me lembrado do português, eu teria sabido o que dizer, mas a gente nem sempre consegue pensar nestes momentos – quando a gente quer. Ele parou por um momento antes de responder e, depois, falou num inglês perfeito… Ai! Ai! como eu fiquei nervosa, pensando naquilo que ele ia dizer – e naquilo que eu talvez dissesse para ele – e naquilo que Robert estava pensando, ali no quarto, deitado, escutando tudo que se passava! Disse ele: “Eu tenho ouvido que seu esposo tem… viajado muito, e eu queria falar com ele acerca de suas viagens.” Papai, o senhor consegue imaginar como dentro de meu coração, eu suspirei, aliviada, naquele momento? Eu disse não sei o quê… algo sobre Robert e o prazer que ele teria, caso estivesse com saúde… E nós duas nos curvamos perante ele de novo. Com isso, Sua Majestade volveu-se para os quadros, aquarelas, na parede da sala – de fato, ele estava examinando-os quando eu entrei na sala. São aqueles quadros pintados pelo Sr. Woolnooth – e ele perguntou de onde eram, e o nome do artista daquele quadro da planície de Babbicombe, e com as lindas cores do mar. Ele perguntou: “Tem um álbum das viagens de seu esposo?” Eu disse que não, mas depois lembrei que algumas pessoas importantes daqui tinham visto algo, e que talvez tivessem mencionado tal coisa… então abri o baú para tirar os álbuns. Mas Sua Majestade fez isso para mim, com aquela cortesia de cavalheiro. Ele os abriu e disse: “Tenho este livro. Seu esposo não tem nada escrito, nada publicado sobre suas viagens?” Claro que eu disse que não, e dentro de poucos minutos, ele pegou seu chapéu, repetimos nossas reverências, e ele se foi! Robert, coitado – suas dores haviam piorado – perguntou: “Você tem certeza que não foi um sonho, pois minha cabeça está doendo tanto?” De fato, parecia muito mais com sonho do que realidade.

Sarah Poulton Kalley (correspondência de 07 de março de 1860)[15]

Sarah: companheira dedicada

Sarah Kalley foi esposa de um grande homem, pois o dr. Robert Kalley, além de médico, era um autêntico servo de Deus preocupado em cuidar da alma e do corpo dos que necessitavam. Os biográfos do casal são unânimes em afirmar que a maior parte do trabalho realizado era feito pelos dois. Sarah pôde ajudar o marido em diversas áreas nas quais era mais habilidosa:

Sara foi uma constante e eficaz colaborado do seu Espôso. Serviu-lhe de secretária e até esboços de sermões preparava para ele, quando se encontrava enfêrmo, impossibilitado, portanto, de pensar. Os colportores e pregadores quando eram convidados a substituir o Dr. Kalley, na sua ausência, recebiam dela, também, o material necessário para as suas pregações. Todos os trabalhos dos colportores estavam sob a sua responsabilidade. Muitas vezes, pela enfermidade do Espôso, e a seu pedido, escrevia cartas pastorais, para as Igrejas Evangélicas Fluminense e Pernambucana. Nas constantes viagens que fazia o Dr. Kalley, D. Sara sempre o acompanhava. Com êle, sofreu grandes perseguições, no Rio, em Petrópolis, em Niterói e em Recife. Nunca, porém, se lastimava.[16]

Logo quando chegou ao Brasil, o dr. Kalley tratou de muitas vítimas do cólera que assolava a região e, nessas ocasiões, não perdia as oportunidades para anunciar a salvação por meio de Cristo.

Figura 3 – Dr. Robert Kalley. Fonte: LUZ, Fortunato (coord.). Esboço histórico da Escola Dominical da Igreja Evangélica Fluminense, p. 49.

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Figura 3

Notícia de jornal sobre oferecimento de ajuda do dr. Robert Kalley

Notícias diversas

Consta-nos que a moléstia reinante já se manifestou na Parahyba do Sul, na estrada de Minas, entre Petropolis e essa villa; alguns casos fataes já se têm dado e as victimas com difficuldade têm achado que lhes dê sepultura.

O Sr. Vice-presidente da provincia autorisou, por indicação do Sr. Dr. Mello Franco, a installação de uma enfermaria nessa estrada. Está encarregado d’essa commissão o Sr. Dr. Porciuncula.

O Sr. Dr. Roberto Kalley, sacerdote protestante Inglez, que se acha entre nós de viagem, offereceu à commissão sanitaria do município da Estrella os seus serviços em favor da pobreza.

Correio Mercantil, 20 de novembro de 1855[17]

Sarah foi companheira fiel em tempo de sossego ou de perseguições, que foram muitas, no Rio, Petrópolis, Niterói e em Pernambuco. O casal Kalley sofreu insultos na Igreja, na rua e mesmo em casa. Tudo sofreu por amor à causa que ambos abraçaram, por conta própria, sem nenhum vínculo com entidade missionária.

Fundaram em Recife, em 1873, a Primeira Igreja Evangélica do Norte do Brasil: a Igreja Evangélica Pernambucana. Naquela cidade sofreram muitas perseguições, com o povo dirigindo-lhes injúrias e atirando-lhes pedras da rua; no entanto, prosseguiram e conseguiram ver frutos de seu trabalho.

O ministério feminino tem características diferenciadas, e a evangelização de Sarah era diferente. Ela evangelizava conversando com as famílias que visitava, presenteando com literatura evangélica, escrevendo cartas etc.

Para as autoridades locais, os dois eram igualmente evangelistas e estavam dissiminando suas heresias. Segundo Vieira, o conselheiro José Maria da Silva Paranhos, ministro do Exterior, em conferência com William Stuart, agente diplomático britânico, em 1859, informou que fora apresentada queixa pelo presidente da Província do Rio de Janeiro, Inácio Francisco Silveira da Mora, barão de Vila Franca, contra o dr. Kalley. A reclamação era de que ele “pregava o protestantismo ao povo, e também pregava aos doentes e à família dos mesmos e que Sarah Kalley o ajudava nisto”.[18]

Até mesmo nos trabalhos literários, o dr. Kalley era auxiliado por sua esposa, em uma ajuda mútua e alegre que foi abundantemente abençoada e abençoadora.

Esse auxílio mútuo pode ser percebido em diversas referências sobre o casal: Sarah esboçando os sermões, o rev. Kalley pregando; ou os dois traduzindo obras juntos, como foi o caso do livro O peregrino, publicado primeiro na imprensa diária em série e, depois, a pedido dos leitores, na forma de livro.

Sarah: líder dos colportores

Os colportores, como informado no Capítulo 3, eram os evangelistas que distribuíam Bíblias e literatura evangélica. Em 1864, Sarah assumiu definitivamente a liderança dos colportores congregacionais, um serviço que fazia somente quando o esposo estava doente ou ausente.

Um dia típico na vida da missionária era bem movimentado, pois além de atender os colportores, visitava famílias inglesas e pessoas de destaque, como o professor Luiz Agassiz e sua esposa, e ainda recebia lições de português.

Conforme o costume, a Sra. Kalley recebia, em cada dia da semana, a visita de um colportor, que ia prestar-lhe as contas do seu trabalho, na venda de livros pelas ruas da cidade. Assim apareciam sucessivamente o Patrocínio, o José Bastos, o Jardim, o Bernardino e o Gama. O Sr. José Bastos queixava-se de que não era convidado frequentemente a dirigir o culto na Casa de Oração; mas o fato é que ele não percebia que tinha pouco dom para isso…[19]

A direção segura e serena de Sarah fazia que os colportores lhe confidenciassem dificuldades diversas. Elas os aconselhava e os orientava segundo as Escrituras e procurava elevar seu moral pessoalmente ou por cartas. Era, porém, firme na cobrança de resultados e relatórios. Quando estava ausente do país, demonstrava preocupação pastoral para com seus liderados em cartas frequentes, como relatam os trechos a seguir.

Lemos, com muito prazer, a descrição que nos deu das reuniões na ausência do Sr. Holden. Damos graças a Deus pela harmonia que tem reinado entre todos. Foram lidas aquelas cartas que foram enviadas daqui para serem lidas em tais ocasiões? Quem as leu? Como vai o Sr. Viana? Espero que não sofra, no seu espírito, por andar com os livros, como muitos se queixam…

Sinto que os negócios de seu filho João vão mal; andando com a cabeça fora do lugar, certamente há de tropeçar!…[20]

Estimava saber das melhoras do Sr. Henrique, de Cascadura. Como vão os outros irmãos dali? – pergunta ela – e como vai a classe de música? Há muito tempo que não ouço nada a respeito dela. Temo que todo o trabalho tenha sido baldado…[21]

Em 6 de novembro de 1869, ela escreveu ao colportor Sr. Gama “pedindo-lhe informações mais minuciosas sobre as publicações que ele havia recebido; chamando sua atenção para a necessidade de os colportores, inclusive ele próprio, ativarem a venda dessas publicações”.[22]

Em 1870, Sarah escreveu para sua tia, Lydia Morley, pedindo-lhe que enviasse algumas linhas ao ex-marinheiro, convertido no Rio de Janeiro, Sr. A. Patrocínio Dias, para estimulá-lo no seu trabalho de colportor. Como empregado da Sociedade Bíblica Britânica, ele vendia livros em Portugal e no Brasil.

Agora está em Lisboa e se sente bastante desanimado no seu serviço; desejamos, se fôr possível, tocar[23] em Lisboa, na nossa volta para o Brasil, e procurar reanimá-lo. Julgo que será para ele, “um copo de água fresca” mostrar-lhe a nossa simpatia por seu trabalho e exortá-lo a continuá-lo, no espírito de paciência de N. S. Jesus Cristo.[24]

Sarah supria esses pregadores leigos com esboços de sermões, que eles muito apreciavam, assim como seus ouvintes.

A Sra. Kalley preparava umas notas ou esboços que não somente ajudavam o seu sobrecarregado esposo, no seu trabalho, como também auxiliavam os pregadores leigos a desincumbirem-se de suas tarefas. Êsse auxílio, prestado silenciosamente pela devotada Senhora era tido em alta estima por êsses pregadores. (grifo do autor)[25]

Participo-lhe que os sermões (enviados pela Senhora Kalley ao Sr. Bernardino e a outros pregadores) têm sido muito bons para todos; creio que os ouvem bem; agora só me resta o das “últimas palavras de S. Paulo”. Rogo que a Sra. Kalley (se for possível) prepare mais alguns, principalmente para o domingo da Ceia do Senhor”.[26]

Sarah: compositora e editora do hinário Salmos e Hinos

Sarah Kalley é conhecida no meio evangélico brasileiro, principalmente, por causa da produção do hinário congregacional muito apreciado e utilizado pelos protestantes no início de suas denominações no Brasil. Muitos cânticos dos Salmos e Hinos fazem parte de outros hinários evangélicos.

Além de compor letras para os hinos, Sarah foi a principal responsável pela elaboração do hinário. Ela traduziu ou compôs cerca de 200 hinos, alguns em colaboração com seu esposo.

Tanto o Dr. Kalley como a Sra. Kalley eram talentosos poetas e músicos, e foi sob o ministério deles que foi produzido o hinário “Salmos e Hinos”, que até a metade do século XX permaneceu o mais popular e largamente usado por todas as denominações no Brasil, ainda hoje presente em muitas igrejas.[27]

A primeira hinodia evangélica em português data do ano de 1855, quando o próprio Kalley traduziu e compôs alguns hinos para uso nos cultos com os madeirenses. Esse primeiro hinário em português foi impresso em Londres, em 1855, pela Sociedade de Tratados Religiosos, e possuía aproximadamente 25 hinos.[28]

Em 8 de maio (1866), o Dr. Kalley escreveu uma carta ao Dr. Davies, secretário da Sociedade de Tratados Religiosos (…) Comunicou-lhe também que estavam sendo tiradas, no Rio de Janeiro, novas edições dos “Psalmos e Hymnos”, e que, à vista disso, não era necessário que a Sociedade reimprimisse a coleção de hinos de 1855.[29]

Portanto, o hinário impresso para os brasileiros, em 1861, foi uma reimpressão do primitivo hinário, com acréscimo de 46% de hinos novos.        Nessa edição de 1861, foram adicionados 5 hinos de Kalley, 6 salmos e 12 hinos de Sarah.[30]

Essa primeira edição brasileira foi preparada pelo casal e publicada só com as letras dos hinos, tendo sido usada pela primeira vez em 17 de novembro de 1861.

Posteriormente, para a cerimônia inaugural da Casa de Oração, na propriedade adquirida pelo dr. Kalley na Travessa das Partilhas, em 7 de agosto de 1864, Sarah compôs a letra do hino “Bendito Jesus! Divino pastor”, com música, de 1655, de Tomás Selle.[31]

A letra do atual hino 315, “Vitória por Jesus”, de sua autoria, pode ser apreciada a seguir, em sua própria caligrafia.

Figura 4 – Letra de Sarah Kalley do hino “Vitória por Jesus” (315 – Salmos e Hinos). Fonte: Acervo da Associação Basileia.

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Figura 4

Sarah trabalhou bastante para que a segunda edição do hinário fosse publicada, em 1865. Acrescida de 20 novos hinos, em um total de 83 cânticos, foi impressa na Typographia Laemmert.[32]

A Sra. Kalley estava preparando uma segunda edição dos “Psalmos e Hymnos” – para isso compunha vinte e seis hinos novos e corrigia os que haviam saído na primeira edição brasileira e no aditamento de 1863. Trabalhou ativamente durante as quatro semanas de outubro, auxiliada pelos conselhos do Sr. Malafaia, que como sabemos, era o revisor dos seus trabalhos. Parece que lhe foi necessário comprar um piano, a fim de organizar a parte musical, destinada ao ensino das classes.[33]

A produção dos Salmos e Hinos foi feita em parceria com seu esposo. A Sarah cabia a seleção dos novos hinos e o trabalho de revisão, e ao marido a questão dos direitos autorais e a proibição de cópias clandestinas, bastante comuns à época. A maior preocupação do dr. Kalley era em relação à doutrina, porque às vezes se inseriam novas frases que não estavam de acordo com a mensagem bíblica. Esse zelo pela doutrina do missionário escocês pode ser percebido no comentário sobre o trabalho de revisão:

O calor, neste princípio do ano (1865), foi intenso e sufocante, de sorte que a Sra. Kalley adoeceu e esteve de cama cêrca de três semanas – 20 de janeiro a 9 de fevereiro. Mesmo doente, porém, esforçava-se por desempenhar os seus deveres de cada dia. Procurava ainda compor hinos novos, que depois submetia à apreciação do Sr. José Luiz de Malafaia, que era encarregado de corrigir os erros de português, sem, porém, modificar a doutrina.(grifo do autor)[34]

O casal Kalley traduziu hinos do alemão e inglês e compôs novas letras, em um trabalho mútuo no qual Sarah, com mais talento poético, adornava a doutrina elaborada pelo esposo. Essa união produziu para os evangélicos brasileiros um excelente hinário, que contém os primeiros hinos em português a provarem o teste do tempo: “Seus precursores, missionários aos portugueses no Extremo Oriente, compuseram hinos que são puramente de valor histórico, mas os hinos escritos pelo casal ainda são cantados com entusiasmo e unção”.[35]

Sarah: múltiplas atividades

Sarah era multitalentosa e polivalente, executando diversas atividades: foi evangelista, professora, musicista, pintora, escritora etc. Junto ao esposo realizou tarefas de evangelização, com distribuição de folhetos e livretos. Seu biógrafo e filho adotivo, João Gomes da Rocha, relatou uma excursão evangelística que o casal realizou em fevereiro de 1865:

No domingo, 12, resolveram fazer uma grande excursão pelo caminho íngreme de Vassouras. Levaram consigo alguns livrinhos e folhetos que foram distribuindo pelo caminho. O esforço que empregaram, porém, lhes fez mal, de sorte que não passaram bem a noite. Contudo, foi bom terem escolhido esse dia para a excursão, porque, nos três dias seguintes, houve muita chuva e eles resolveram voltar para sua residência na quarta-feira.[36]

Em 1867, Sarah fundou uma classe especial na Igreja Evangélica Fluminense para jovens de ambos os sexos; os quais estudavam biografias de vultos bíblicos, cantavam hinos e oravam.

Ela possuía grande desejo de organizar uma Sociedade de Senhoras, mas isso não era aceitável na época, uma vez que as mulheres brasileiras não saíam sozinhas às ruas. Sarah, portanto, resolveu iniciar a sociedade com três senhoras alemãs que não obedeciam a essa restrição e, para sua alegria, na primeira reunião em 11 de julho de 1871, onze senhoras compareceram em apoio à ideia. O primeiro estudo foi sobre o caráter de Eva, mãe da raça humana. Ela atuou como presidente daquela associação até sua volta para a Escócia. Atualmente, a sociedade de senhoras das igrejas evangélicas congregacionais, tem o nome de União Auxiliadora Feminina.

Além de outras ocupações, o casal Kalley preparava a lição da Escola Dominical e se reunia com os professores antecipadamente para explicações e solução de dúvidas. Sarah também dirigia o culto das crianças, ao qual compareciam em média 40 pequenos, além de lecionar música para os adultos. A agenda da Igreja Fluminense naquele ano de 1871 era intensa, como pode ser observado a seguir.

Agenda da Igreja Fluminense

2as feiras: estudo de música e ensaio dos hinos

3as feiras: reunião da Sociedade de Senhoras

4as feiras: culto semanal

6as feiras: reunião dos professores da escola dominical para o preparo das lições.

Domingo: escola dominical e culto

Em 1886, Sarah criou mais uma classe de música, a classe Juvenil, devido ao interesse de muitos jovens. Quando se juntavam as duas classes, formavam uma turma de mais de 40 alunos.

Como hábil pintora, Sarah ajudava bastante preparando paisagens que ilustravam o sermão do pastor. Como afirmou o filho adotivo do casal, Rocha: “A sra. Kalley ocupou-se durante algumas horas em preparar um mapa da cidade de Jerusalém para ilustrar o sermão da noite, em que o pastor iria falar sobre o Calvário ou o monte em que crucificaram Nosso Senhor Jesus Cristo”.[37]

Sarah e sua obra adotada nas escolas: A alegria da casa

O livro escrito por Sarah, com instruções domésticas, foi considerado um guia completo para as donas de casa. Em 1880, aprovou-se a proposta de um membro do Conselho de Instrução Pública para que A alegria da casa fosse utilizado nas escolas.

O Dr. Kalley e sua esposa resolveram empregar uma parte do seu tempo, neste ano (1866) em preparar livros novos que atraíssem maior número de leitores e facilitassem o trabalho diário dos vendedores de livros religiosos. Assim publicaram uma obra de grande utilidade – “ A alegria da casa”, que era vendida a $320 o exemplar.[38]

Figura 5 – Capa do livro A alegria da casa, de Sarah Poulton Kalley ( 9ª edição). Ilustrações de Alfredo Moraes. Lisboa: Livraria Evangélica, 1916.

Figura 5

Figura 5

Sumário do livro A alegria da casa ou raios de luz sobre a vida familiar.

Capítulo I – Acerca da cozinha

Capítulo II – Acerca do quarto de dormir

Capítulo III – Acerca das salas

Capítulo IV – Acerca das janellas e exterior da casa

Capítulo V – Acerca das despezas da casa

Capítulo VI – Acerca do asseio do corpo

Capítulo VII – Acerca do vestuário

Capítulo VIII – Acerca do tratamento dos doentes

Capítulo IX – Acerca do tratamento dos filhos

Capítulo X – Acerca do marido e da mulher[39]

            Sarah mostrou sua sabedoria ao discorrer sobre a educação dos filhos. Instruiu as mães a nunca quebrar uma promessa feita aos filhos e, da mesma forma que o fazem os psicólogos contemporâneos, ela afirmou que, para lidar bem com os outros é necessário, antes de tudo, cuidar de si mesmo: “Primeiramente os paes têem de tratar de si mesmos; a mãe sobretudo há de governar o seu proprio espírito com paciência; pois se Ella mostrar máo genio á creança; esta aprenderá logo a mostral-o tambem”.[40]

            Sarah falou sobre temas atuais, como combate aos mosquitos e substituição de papel para embrulhar as compras de alimentos por uma lata de alumínio, que, além de comportar uma maior quantidade, poderia ser reutilizada. Observem-se os trechos a seguir:

Quem deseja gozar de saúde nunca deixará ajuntar-se água em pequenos charcos perto de sua casa. A água estagnada é um verdadeiro foco de moléstias, e tem tanto de feio, como de pernicioso.[41]

Por exemplo, compramos um libra de assucar; o papel em que elle vem embrulhado é pesado conjunctamente, e, pois não só se paga mais caro comprando-o á libra, em vez de o comprar á arroba, mas também se paga ao mesmo preço o papel que para nada serve! Cada família, ainda que pobre, deve ter uma lata de folha,[42] em que possa guardar ao menos meia arroba de assucar; assim poupa-se dinheiro e tempo, duas cousas preciosas, pelo emprego das quaes temos de prestar contas a Deus.[43]

Pérolas de Sarah Kalley, extraídas de A alegria da casa

“Se quiser ter uma casa agradável e saudável, não há de ser preguiçosa, nem descansada”.[44]

“O asseio não vem senão quando a cabeça que manda e o braço que executa se esforçam juntos para alcançá-lo”.[45]

“Comer ao almoço o suficiente, ao jantar com temperança, e pouco ou quase nada à noite”.[46]

“Um lugar certo para cada coisa, e cada coisa no seu lugar”.[47]

Inserções de conselhos bíblicos e orientações sobre a vida espiritual no livro A alegria da casa

Sobre comprar fiado: “Tendo dívidas, não podereis escolher as vossas compras à vontade, nem fazer tão bom ajuste, por eles, sentir-vos-ei em uma espécie de dependência, e não sereis livres de ir onde quiserdes. O preceito da Bíblia sobre este ponto é: ‘a ninguém devais cousa alguma senão amor’ e, quem fielmente observar esta regra, achar-se-á em paz consigo mesmo e com os outros”.[48]

Sobre a saúde do corpo: “Se a saúde do corpo é de tão grande valor, muito mais é a saúde d’alma. E se o charlatanismo, no tratamento de doenças físicas, produz resultados funestos, ainda mais indispensável é achar médico competente para tratar das doenças do espírito humano. Quem será senão aquele que o formou, que o conhece perfeitamente, que nas Escrituras Sagradas tem dado as únicas receitas absolutamente infalíveis, e que por meio do precioso sangue de Cristo ‘sara os quebrantados do coração, e lhes ata as suas feridas’. Acautelemo-nos contra tudo que não condiz com as palavras de Deus quanto à saúde de nossas almas”.[49]

Sobre o lidar com doente em perigo de morte: “Não lhe deveis mentir, encobrindo a verdade; é justo que o doente saiba do seu estado. Escolhei ocasião em que estejais a ler na Bíblia Sagrada, ou fazendo oração com o enfermo, para lhe descobrirdes a verdade, falando-lhe com grande ternura, e animando-o a por toda a confiança na sabedoria, poder e amor do bondoso Salvador”.[50]

Sobre o cuidado com a vida interior: “O hábito de ordem exterior ajuda a adquirir hábitos de ordem no regulamento de idéias, pensamentos e costumes intelectuais. Não esquecer o que sempre deve ter o primeiro lugar no arranjo da vida espiritual. O grande mestre diz: ‘Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça’”.[51]

Dessa maneira, Sarah evangelizava, pois entre conselhos práticos ela enfatizava a necessidade de se cuidar da alma. Como o fez, ao instruir sobre a higiene pessoal e a importância de banhos diários: “Lembremo-nos de que como o corpo carece de ser lavado e refrigerado todos os dias pela agua natural, assim a alma carece diariamente da limpeza e purificação, que é obra do Espírito do Senhor”.[52]

Sarah: partida do Brasil, viuvez, fundação da Help for Brazil Mission e seus últimos anos

Em diversas ocasiões, Sarah escreveu aos seus parentes dizendo-se preocupada com a saúde do esposo e a intensidade do trabalho que ele realizava em idade avançada.

A sra. Kalley pensava que já era tempo de o marido encerrar sua tarefa no Brasil, retirando-se para descansar, pois não podia continuar esforçando-se com antes. Entendendo que chegara a hora de parar, o dr. Kalley escreveu de Petrópolis aos líderes da Igreja Fluminense, comunicando:

Há um ano, eu desejava retirar-me do Brasil, porque sentia que me faltavam as fôrças para encarar os trabalhos e a responsabilidade da função que preenchia entre vós. Não me retirei porque julguei que, se fosse possível, deveria esperar a volta do Sr. João dos Santos. Não me senti, portanto, dispensado pelo Amo. Agora me sinto ainda menos competente para estes trabalhos e me parece que não estou apenas dispensado, mas que é meu dever voltar para a Europa, logo que tiver feito os arranjos que forem necessários.[53]

Acreditando que melhoraria com os ares de sua pátria, e que poderia voltar para o Brasil ou trabalhar de lá mesmo, o dr. Kalley decidiu partir, sem, contudo, resignar a seu cargo, pois pretendia ministrar a igreja como se estivesse presente no país.

Em 7 de julho de 1876, a igreja se reuniu para a despedida do casal Kalley. Na ocasião, Sarah afirmou que tinha receio das cenas de pranto e lágrimas. Em 10 de julho, embarcaram no vapor “Galícia”, com destino à Europa. Na Escócia, fixaram residência em Edimburgo, onde posteriormente construíram uma casa que recebeu o nome de Campo Verde, em homenagem ao Brasil.

O casal Kalley não teve filhos, mas adotou duas crianças brasileiras: João Gomes da Rocha e Silvana Azara de Oliveira, mais conhecida como Sia e adotada quando o casal Kalley já estava na Escócia. De Edimburgo, os missionários não cessavam de escrever, enviar estudos e orar pelo rebanho brasileiro. Em carta à igreja em novembro do ano da partida, o dr. Kalley informou que em seus cultos dominicais eles oravam individualmente pelos membros.

Trecho da carta do dr. Kalley à Igreja Evangélica Fluminense

Edimburgo, 5 de novembro de 1876.

Meus queridos irmãos:

Aqui já é 1.30 hora de domingo e lá são apenas 10.30 da manhã.

Em imaginação, vos vejo juntos, nos mesmos bancos e na mesma sala onde nos costumamos reunir, para estudarmos as verdades reveladas por Deus a respeito de si mesmo, a respeito da redenção por Jesus e a respeito do porvir eterno.

Seria, para mim, um grande prazer achar-me no meio de vós agora e cantar – “Jesus sendo meu”, “Cantarei a Cristo”, “Findou-se a luta de Jesus” ou “Jesus virá” e unir minha alma às vossas, em louvores a Deus, em nome de Jesus…

Aqui, nos domingos, pela manhã, nos reunimos em casa, para culto em Português. Nessa ocasião vamos lendo o “Rol de Membros da Igreja” e fazendo oração por cada um individualmente – lembrando-nos das suas circunstâncias especiais, pedindo ao Senhor aquilo que julgamos necessário para cada um. (…)

Talvez vos agrade saber o que rogamos a vosso favor. Rogamos que o vosso pastor, influído pelo Espírito Santo, esteja cheio de zelo, prudência e sabedoria e reparta entre vós a verdade, como um bom despenseiro do Senhor e se conduza, em tudo, de tal sorte, que dê suas contas finais ao Amo, com grande alegria. Rogamos que os vossos presbíteros e diáconos sintam a realidade das coisas divinas e eternas e, com a operosa ajuda do Salvador, velem pelo Rebanho, adquirido por Ele por tão grande preço! Rogamos por todos os membros, para que não durmam em descuido e insensibilidade, mas escutem, com o mais vivo interesse, a voz do Senhor e ponham por obra aquilo que o Salvador, como Senhor de sua Casa, tem estabelecido para o governo dela. Rogamos que todos vós, crendo no amor de Deus para convosco, também vos ameis uns aos outros, como Ele vos amou; que o vosso amor não seja meramente de palavra, mas vos leve a valer aos fracos, consolar os aflitos, animar os tímidos e a andar como filhos de Deus, remidos por Cristo, a caminho da morada que Ele vos preparou e atraindo a vós – outros muitos mais, pelo vosso grande regozijo no Senhor!… Detive a pena aqui e comecei a passear pelo quarto, meditando no que seria a Igreja Evangélica Fluminense, se Deus nos concedesse todos estes rogos! Quão lindo seria e quanta influência haveríeis de ter sobre os homens do mundo que vos cercam! Que vida seria a vossa neste mundo e que galardão no futuro! Que ceifa no Grande Dia do Senhor!… Cuidai, meus irmãos, cuidai para que nada, de vossa parte, impeça o pleno cumprimento dos nossos rogos!

Roberto R. Kalley[54]

Como pode ser percebido nesse texto, o carinho do casal pela igreja era extremo. No início de outra carta, em que o dr. Kalley informou sobre uma crise de enfermidade da esposa, também transpareceu o sentimento de amor e cuidado pelos brasileiros:

Meus queridos amigos e irmãos: Minha cara mulher teve um ataque muito sério na noite de 13 deste mês. Parecia perigoso; e, durante seis dias, não podia levantar a cabeça da almofada. Ainda não se pode pôr de pé. Escrevo-vos esta no quarto, que podia ter sido tão triste para mim!… A Sra. Kalley, neste momento, está sentada numa cadeira – melhor, mas incapaz de fazer qualquer coisa, até a mais leve… Para mim estes dias têm sido muito solenes e vizinhos da Eternidade!… Há um minuto, ela me perguntou a quem eu estava escrevendo; Respondi-lhe – à Igreja Evangélica Fluminense. Ela me replicou – “O Senhor os guarde, o Senhor os guie, o Senhor os abençoe!” Ao que eu respondi: Amém![55]

Dez anos depois, foi a vez de Sarah preocupar-se com o marido enfermo. O dr. Robert Kalley, em seus dois últimos anos de vida, sofreu de dermatite que lhe irritava a pele e lhe enfraquecia; e era com dificuldades que continuava a escrever a seus amigos e irmãos, com a ajuda de Sarah. Em 16 de janeiro de 1888, sobreveio-lhe uma desordem cardíaca que impediu o funcionamento de seus pulmões, fazendo-o agonizar por mais de 15 horas.

Em carta às igrejas fluminense e pernambucana, Sarah relatou que a última noite de seu esposo foi de grande agonia. Mesmo com muita dor no peito e dificuldade de respirar, ele orava por todos: “Senhor, abençoa teus servos no Brasil, abençoa Santos, Jardim, Bernardino! Senhor, abençoa Tua obra em suas mãos! Senhor, abençoa os crentes em Pernambuco!”.[56]

No dia seguinte perdeu a visão. E, após convulsões, bradou: “Deixem-me ir! Deixem-me ir! Isto é a morte, ó minha querida mulher!”. E faleceu. O médico que esteve presente durante toda a noite afirmou: Esta é uma morte triunfante![57]

Em seu enterro, no dia 24 de janeiro, pregou o rev. Hudson Taylor, missionário aos chineses. Sarah, apesar de muito abalada, se lembrara de um sermão proferido pelo rev. dr. Lowe, por ocasião do sepultamento do rev. dr. Balfour, e o adotou para se despedir daquele que fora seu companheiro por 35 anos:

Santo bem-aventurado!

Pensarei mais frequentemente no céu, porque estás ali!

Olharei, mais atenta, para a multidão dos espíritos dos justos aperfeiçoados, porque és um deles!

E quando, pelo sangue e pela justiça do Filho de Deus, e em razão daquela misericórdia que excede os Altos Céus, livre do mais profundo Inferno, chegar a minha hora para entrar naquele puríssimo santuário, no meio das prodigiosas solenidades e regozijos da minha nova situação… olharei em redor para te reconhecer e ir encontrar a doçura do teu amplexo triunfante![58] 

Sarah ainda viveu quase 20 anos após a morte do dr. Kalley. Embora idosa, franqueou sua confortável residência aos jovens estudantes universitários que estavam distantes de suas famílias e amorosamente “inspirou a muitos, exercendo sobre todos benéfica influência e atraindo-os a Cristo, o que lhe grangeou o carinhoso cognome ‘Mãe de Edimburgo’”.[59]

Sarah continuou sendo a referência para os brasileiros congregacionais, com os quais sempre mantinha contato. Sentindo a necessidade de encontrar uma solução mais definitiva para apoiar o trabalho no Brasil, fundou em setembro de 1892, na cidade de Edimburgo, a Help for Brazil Mission (Missão Auxílio para o Brasil), com a inspiração do rev. James Fanstone, pastor da Igreja Evangélica Pernambucana. Um dos membros da missão era o rev. Hudson Taylor. Como secretária, fez apelos pessoais a fim de obter apoio financeiro para a nova entidade missionária, pois o objetivo da missão era enviar missionários ao país.

O conselho dessa missão afirmou que: A Sra. Kalley era a alma deste Conselho. Foi ao redor dela que todos os outros membros se reuniram. A intensidade de seu interesse em tudo o que se relacionava com o bem-estar espiritual do Brasil, o entusiasmo que ela devotava à manutenção e extensão da missão a qual ajudara a fundar, e o sucesso com o qual trabalhou para introduzir seu próprio zelo auto-sacrificial em seu amplo círculo de amigos eram inspiração e estímulo constante para seus conselheiros e coloboradores.[60]

A partir de novembro de 1906, Sarah adoeceu. Sua filha adotiva, Sia Ázara de Oliveira, escreveu uma carta à Igreja Evangélica Fluminense, em 12 de agosto de 1907, na qual relatou seu falecimento:

A última doeça da Sra. Kalley começou a se manifestar em novembro do último ano, e em seus estágios iniciais foi acompanhada por uma boa dose de sofrimento. A esperança de recuperação não diminuiu até as últimas semanas. Vez após vez, depois dos ataques da doença, ela recobrou inesperadamente forças, e maravilhosa vitalidade a caracterizou até os últimos dias. Mas seu trabalho terminara e, a seu próprio tempo, o Senhor, a quem ela servira, a levou para casa, no dia 8 deste mês, e hoje ela descansa ao lado de seu amado marido, no Dean Cemitery. A seu próprio pedido, as palavras “Herdeiros da graça da vida” serão inscritas na lápide que marca o túmulo.[61]

O pastor João Gonçalves dos Santos, sucessor de Kalley, estava na Europa nos últimos dias de vida de Sarah. Informado sobre sua morte, compareceu ao funeral e narrou:

Principiou-se o serviço religioso, lendo-se diversas passagens das Escrituras. A leitura foi feita por um ministro evangélico, Sr. Brown. Cantou-se um hino e fêz-se oração. Um membro da diretoria do Help for Brazil falou, expondo, resumidamente, a vida e o trabalho da Sra. Kalley na Igreja Fluminense e o quanto os irmãos que a conheceram haviam de sentir tristemente a sua morte. Declarei que eu ali representava o Brasil e as Igrejas Fluminense, Pernambucana e de Passa Três.(…) Peguei no cordão do caixão para arriar na sepultura, que é a mesma onde está o Dr. Kalley. Escrevi um epitáfio em inglês e o entreguei ao Dr. Rocha, para, com permissão da família, colocar uma pequena pedra na sepultura da Sra. Kalley, mandada pela Igreja Fluminense. A pedra terá estas palavras: “Em memória da Sra. Sarah P. Kalley, gratidão e amor da Igreja Evangélica Fluminense, Brasil, agôsto de 1907”.[62]

Sarah Poulton Kalley faleceu em 8 de agosto de 1907, na sua residência em Campo Verde, com pouco mais de 82 anos de idade e foi sepultada em 12 de agosto de 1907, no Dean Cemitery, junto a seu marido, dr. Robert Reid Kalley.[63]

O casal de missionários deixou muitas saudades nos evangélicos brasileiros e portugueses. O dr. Kalley era muito querido em Portugal, seu primeiro campo missionário. Um colportor português assim se expressou quando da viagem do casal, em 1871: “Que alegria tiveram os irmãos, em Portugal, quando aqui chegou o Sr. doutor, acompanhado de sua senhora! O povo não cabia na Casa de Oração! Que será então no dia em que acabarem as saudades?”.[64]

Como conclusão ao relato da vida dessa extraordinária missionária, seguem suas próprias palavras sobre seu ministério no Brasil: “Damos louvores ao Senhor, porquanto almas preciosas têm sido admitidas na Família bem aventurada do Pai Celeste e ao gozo seguro da morada eterna, além da morte, de modo que ninguém as poderá arrebatar da mão de Jesus”.[65]

Conclusão

Sarah Kalley chegou ao Brasil em 1855, exatamente nos meados do século XIX, ainda durante o Império, quando as mulheres começavam a transitar pelas ruas da cidade para fazer compras, passeios ou mesmo a trabalho.

Ao final do século, a participação feminina na sociedade brasileira, até então restrita a uma função familiar, centrada na educação dos filhos e na administração do lar, lentamente se transformava a partir do incremento na participação do mercado de trabalho.

Novidades tecnológicas como o bonde também possibilitaram a saída de mulheres do espaço restrito da casa para as ruas. Assim, as grandes mudanças políticas e sociais do Brasil na virada do século, entre as quais a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República, foram fundamentais para modificar o papel da mulher na sociedade.

A possibilidade de maior participação no espaço público, com a busca da educação e a consequente profissionalização do magistério foi fundamental para a emancipação feminina. Como professoras, as mulheres podiam sustentar-se e educar melhor seus próprios filhos.

E a atuação de Sarah Kalley como educadora e conselheira sobre os cuidados do lar foi um auxílio importante para a sociedade na qual estava inserida, contribuindo para o progresso social e espiritual da mulher brasileira.

Referências Bibliográficas:

[1] As informações para o resumo biográfico de Sarah Poulton Kalley foram extraídas das seguintes fontes: ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. I- IV; CARDOSO, Douglas Nassif. Sarah Kalley: missionária pioneira na evangelização do Brasil. São Bernardo do Campo: Edição do autor, 2005; FORSYTH, William B. Jornada no Império: vida e obra do Dr. Kalley no Brasil. Tradução de Maurício Fonseca dos Santos Junior. São José dos Campos: Fiel, 2006, p. 97; SILVA JUNIOR, Ismael da. Heróis da fé congregacionais. Vol. I. Dr. Roberto Reid Kalley e D. Sara Poulton Kalley. Rio de Janeiro: Igreja Evangélica Fluminense, 1972.

[2] Rute Salviano Almeida é bacharel e mestre em teologia e pós-graduada em História do Cristianismo. Foi professora da Faculdade Teológica Batista de Campinas por quase 20 anos. Escreveu “Uma voz feminina na Reforma” (2010); “Uma voz feminina calada pela Inquisição” (2012) e “Vozes femininas no início do protestantismo Brasileiro” (2014), todos publicados pela Editora Hagnos. O último foi agraciado com o Prêmio Areté 2015, na categoria História da Igreja. Esse resumo biográfico encontra-se nas páginas 213 a 236 do referido livro.

[3] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. IV, p. 357.

[4] KALLEY, Robert. O Christão. Nº 67, junho de 1897, p. 11, citado por CARDOSO, Douglas Nassif. Sarah Kalley. Missionária pioneira na evangelização do Brasil, p. 198.

[5] FORSYTH, William B. Jornada no Império: Vida e obra do Dr. Kalley no Brasil. Tradução de Maurício Fonseca dos Santos Junior. São José dos Campos: Fiel, 2006, p. 97/98.

[6] CARDOSO, Douglas Nassif. Sarah Kalley: missionária pioneira na evangelização do Brasil, p. 84.

[7] FORSYTH, William B. Jornada no Império, p. 98.

[8] FORSYTH, William B. Jornada no Império, p. 97.

[9] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. I, p. 33.

[10] CARDOSO, Douglas Nassif. Sarah Kalley: Missionária pioneira na evangelização do Brasil, p. 185.

[11] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. IV, p. 162.

[12] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Ensaio histórico do início e desenvolvimento do trabalho evangélico no Brasil do qual resultou a fundação da “Igreja Evangélica Fluminense”, pelo Dr. Robert Reid Kalley. Vol. III. Terceira fase: 1868 a 1872, Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Publicidade, 1946, p. 172.

[13] SILVA JUNIOR, Ismael da. Heróis da fé congregacionais. Vol. II, p. 82.

[14] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. IV, p. 273.

[15] CARDOSO, Douglas Nassif. Sara Kalley: missionária pioneira na evangelização do Brasil, p. 169-172.

[16] SILVA JUNIOR, Ismael da. Heróis da fé congregacionais. Vol. I, p. 65.

[17] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. 1, p. 34.

[18] VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil, p. 120.

[19] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. II, p. 13.

[20] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. III, p. 106.

[21] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. III, p. 125.

Obs.: O pressentimento de Sarah estava correto, pois em carta enviada pelo Sr. Gama, posteriormente, ela foi informada de que a Classe de Música ia mal (p. 131).

[22] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. III, p. 125.

[23] Os Kalley esperavam passar alguns dias em Lisboa, para providenciar uma nova edição dos Salmos e Hinos e para animar os crentes portugueses.

[24] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. III, p. 171.

[25] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. III, p. 252-253.

[26] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. III, p. 268. Nota do autor: “Para fornecer as notas do sermão ao Sr. Bernardino, foi necessário recorrer à Sra. Kalley, no sábado, embora ela ainda estivesse bastante fatigada da viagem”.

[27] HAHN, Carl Joseph. História do culto protestante no Brasil, p.149-150.

[28] CARDOSO, Douglas Nassif. Convertendo através da música. A história de Salmos e Hinos. São Bernardo do Campo: Edição do autor, 2005, p. 16; 22.

[29] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. II, p. 113.

[30] CARDOSO, Douglas Nassif. Convertendo através da música, p. 25.

[31] BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Música sacra evangélica no Brasil, p. 111-112.

[32] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. II, p. 18.

[33] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. II, p. 59.

[34] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. 2, p. 17.

[35] FORSYTH, William B. Jornada no Império, p. 161.

[36] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado, vol. II, p. 18-19.

[37] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado, vol. II, p. 255.

[38] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado, vol. II p. 111.

[39]KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa. Ou raios de luz sobre a vida familiar. 5. ed. Lisboa: Barata & Sanches, 1894, p. 61-63.

[40] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 43.

[41] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 20.

[42] Lata de folha: lata de alumínio.

[43] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 24.

[44] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 6.

[45] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 7.

[46] Lembrando que, à época, o jantar ocorria por volta das 16 horas.

[47] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 7.

[48] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 22-23.

[49] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 42-43.

[50] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 41.

[51] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 7-8.

[52] KALLEY, Sarah Poulton. A alegria da casa, p. 31.

[53] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Volume IV, p. 161.

[54] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Volume IV, p. 178.

[55] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Volume IV, p. 341.

[56] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Volume IV, p. 375.

[57] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Volume IV, p. 376.

[58] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Volume IV, p. 374.

[59] BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Música sacra evangélica no Brasil, p. 323.

[60] FORSYTH, William B. Jornada no Império, p. 247.

[61] FORSYTH, William B. Jornada no Império, p. 246.

[62] SILVA JÚNIOR, Ismael da. Notas históricas sobre a missão evangelizadora no Brasil e em Portugal. Volume II, p. 79.

[63] LUZ, Fortunato (coord.) Esboço Histórico da Escola Dominical da Igreja Evangélica Fluminense, p. 493.

[64] Trecho da carta do sr. Antônio do Patrocínio Dias, colportor, no distrito de Santarém, província de Extremadura, em Portugal, de 08 de julho de 1871, citada por ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado, vol. III, p. 213.

[65] ROCHA, João Gomes da. Lembranças do passado. Vol. III. Ensaio histórico do início e desenvolvimento do trabalho evangélico no Brasil – terceira fase: 1868 a 1872, do qual resultou a fundação da “Igreja Evangélica Fluminense”, pelo Dr. Robert Reid Kalley. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Publicidade, 1944, p. 176.

Rute Salviano Almeida

© de Rute Salviano Almeida – Usado com permissão

Fotografia extraída de: “Acervo da Associação Basiléia em Campinas” – Enviada pela Colaboradora Rute Salviano

 

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6 Resultados

  1. Jônatas Fernandes disse:

    Bravi Sarah!!!
    Hoje, com a graça de Deus e o seu empenho, podemos desfrutar de belos hinos.

  2. Jônatas Fernandes disse:

    Bravi Sarah!!!
    Hoje, com a graça de Deus e o seu empenho, podemos desfrutar de belos hinos.

  3. Iranilson Buriti disse:

    Há um livro escrito por Iranilson Buriti sobre Sarah Kalley, intitulado “Leituras do Sensível: escritos femininos e sensibilidades médicas no Segundo Império”, publicado pela editora da UFCG

  4. Cid Mauro Oliveira disse:

    Excelente.

  5. Ozana Vieira disse:

    Sou apaixonada pela história dela. Que hinos maravilhosos ela escreveu 🙏🏼

  1. 13/09/2022

    […] Este hino é encontrado em diversos hinários: Salmos e Hinos (453), Hinos e Cânticos (284), Hinário Evangélico (403), Novo Cântico (308). No Hinário Novo Cântico há uma informação que Sarah Kalley escreveu este hino um ano antes de seu regresso, juntamente com seu esposo, Dr. Roberto Kalley, para a Inglaterra. Acesse a sua biografia este link do site Hinologia Cristã: http://www.hinologia.org/sarah-kalley/ […]

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